Maçã envenenada…

Esta loucura desabrida, de um amor sem medida, que corrói a minha inocência, me dá volta à vida, deixa-me em estado de demência, desse amor que abriu falência, magoou e causou dor, deixou-me neste torpor, sem nenhuma displicência.

Era amor que me levava à loucura, na minha forma mais pura, de poder ser como sou, com carinho e com ternura, que o meu lado oculto te mostrou, a essência do meu ser, sem nada ter que esconder, que esse teu lado negro despertou, e nos rendeu ao prazer, até que sem esperar desmoronou.

Em tudo eras perfeito, sem juízos de valor, por que me querias como sou, e tudo de intenso que se passou, fazendo um sonho parecer, alimentando todo este meu querer, que a alma me serenava, me possuía e acalentava, toda uma esperança vã, de uma loucura sã, que acabou por morrer, sem sequer te chegar a ter.

E agora como te apago, foste veneno que bebi de um trago, por todo o corpo te disseminaste, a minha alma envenenaste, foste a maçã desejada, doce e de cores vivas pintada, mas depressa te cansaste, foste maçã envenenada.

Miss Kitty

Sã na minha loucura…

Sou sã na minha loucura, esta que me acompanha e perdura, que teimam em criticar, sem saberem o que passo julgar, e eu com toda a bravura, opto por tudo ignorar, pois se não julgo ninguém, não têm o direito de me julgar.

Gosto de ser como sou, dar-me como me dou, mostrar o melhor de mim, a quem me respeite enfim, sem dúvidas nem hesitar, com toda esta vontade de amar, de santa e pecadora, fera ferida e predadora, tão intensa e sedutora, na forma de me entregar.

E nesta loucura saudável, onde me permito viver, pode ser infindável, aos olhos dos outros condenável, vivo cada momento, agarro-me ao sentimento, um dia de cada vez, intensamente e com avidez, e entrego-me ao prazer da loucura, com paixão e com ternura mas sem nenhuma insensatez.

É assim como sou, a quem quero, e como quero, me dou, nesta minha sã loucura, faço da vida uma aventura.

Mesmo que…

Mesmo que as almas estejam separadas… São uma!
Mesmo que não me vejas… Sentes-me!
Mesmo que não me toques… Tens o meu perfume entranhado!
Mesmo que não me beijes… Tens o meu gosto!
Mesmo que a carne arda de desejo, pela ausência forçada… Os teus dedos são os meus!
Mesmo que a sede te corroa… Cada gota minha te sacia!
Mesmo que à distância o teu corpo grite e reclame pelo meu… Endeusas o meu como um culto, e sinto-o!
Mesmo que estejamos separados… Fazes de mim o teu lar!
Mesmo que seja impossível… Abrigo-te!
Mesmo que estejas longe… Estou sempre em ti!

Miss Kitty

Mulher… Porque hoje é o dia da mulher…

Mulher, Mãe, Amante… que destino tão errante! Entregas-te aos outros perdida, esquecendo a tua própria vida. Com essa vontade férrea de cuidar, mas, sem te aperceberes, consegues-te ignorar.
És a força da natureza, ser de tamanha beleza, carregas sonhos contigo – deixá-los, o teu castigo. Alheias-te do Viver, dos desejos e prazer, para os outros confortar e nunca nada lhes faltar.
Nunca te rendas nem baixes os braços, não te entregues aos teus cansaços, luta por tudo o que queres, ignora um pouco o que de ti deres, pensa na tua própria vida, com essa coragem desmedida, abraça o que de bom ela tiver e nunca te esqueças de ser Mulher!

Miss Kitty

Qualidades e Defeitos…

Quero-te…
Tal como és, com qualidades e defeitos, sem julgamentos nem críticas, o bom e o mau, o corpo e a alma.
Não queria este querer mas quero, porque há coisas que não têm explicação apenas se sentem…
Quero-te…
E quero que me queiras…
Quero que me queiras como nunca ninguém quis e me vejas como ninguém viu, como sou, pequena mas de alma grande, sem maquilhagem nem adornos, com curvas, sinais e rugas que começam a aparecer, mas totalmente eu, sem a máscara de viver e a defesa de sentir.
Quero que me queiras assim, frágil e forte, menina e mulher, sem reservas nem pudores, e com todas as minhas loucuras que oculto aos demais, esse meu lado mais sombrio do meu ser que faz parte de mim. Sei que não sou bonita nem tenho um corpo de modelo, mas é assim que sou, cheia de imperfeições e defeitos mas outras tantas qualidades, afinal, sou humana.
Quero que te percas em mim, que te seduza este meu ser tal como sou, que sintas desejo por mim, não só pelo aspecto mas por um todo, que te deseja também.
É assim que quero que me queiras…
Imperfeita mas eu…
E se não for assim, não te quero…

Miss Kitty

INSPIRAÇÃO… OU FALTA DELA

Quando as palavras aparentam esquecer-me,
Não me escrevo, ninguém me leria…
Bem tento, mas torna-se agonia.
Luto, mas acabo por perder-me.

Entre as perlongas de uma estrofe me oculto,
Em figuras de estilo me escondo,
Onde o mundo é quadrado e não redondo,
E me encontro nos silêncios sem indulto.

Nada é mais ridículo que estes versos,
Não sei o que escrever e escrevo-me,
Ridiculamente nas entrelinhas enlevo-me,
Idealizando pensamentos dispersos.

Milagrosamente voltam a lembrar-se de mim,
Escrevo letras que dançam em palavras,
Finda a dor, já não me escalavras!
A falta de inspiração tinha que ter um fim.

Miss Kitty

Era…

Era negra a solidão da madrugada escura,
Era a sede e a fome, e tu foste a fruta.
Era desejo de morrer e tu cicuta,
Era o desafio e a desolação, e tu foste a cura.

Era perdida e tu foste o meu caminho,
Era breu e tu candeia que me dava luz,
Era apaixonada e tu corpo que me seduz,
Era sóbria e tu inundaste-me com o teu vinho.

Era casa transparente de ausência que tu habitaste,
Era barco à deriva que tu levaste para porto seguro,
Era amor, que aos poucos tu tornaste obscuro,
Era eu finalmente, e tu descartaste-te…

E voltou a ser negra a solidão da madrugada escura…

Miss Kitty

Bom Ano

ANO

Finda mais um ano
como um caso amoroso,
espalham-se pedaços,
acumulam-se cansaços,
num coração audacioso,
que foi levado ao engano.

Termina mais um ciclo,
de vida, que nos arrebata o tempo,
obstáculo inultrapassável,
de sinónimo inefável,
transforma-o em contratempo,
pois o tempo é ridículo.

Tantos anos superados,
noites de insónia,
de olhos escancarados,
pensamentos acelerados,
sem qualquer parcimónia,
nos desejos imaginados.

É tempo de renascer,
não se vive do passado,
largar todas as magoas,
deixar correr as águas,
consertar o outrora melindrado,
começar a viver, e fazer acontecer!

Tenham um Novo Ano cheio de desejos, e que todas as promessas se cumpram e passem a beijos!
Acima de tudo, sejam felizes s.f.f.!
Beijo enorme e um Bom Ano para todos

Miss Kitty

P.S. : Gosto de vocês!

Viagem prematura…

Era menina inocente, com sonhos na mente, e na sua inocência, pura e sem malícia, fazia magia e tornava o mundo uma delícia. Tudo era perfeito, a vida a seu jeito, de criança feliz, que fazia poesia dessa vida de fantasia e teve o que sempre quis.

A seu tempo cresceu, nesse mundo só seu, tornou-se mulher, de misteriosa sensualidade e a beleza da idade, uma poesia a interpretar, por quem a sabia amar. Gostava da vida, intensa e sentida, uma vida vivida, de fantasia e realidade, sentia-se realizada, era feliz de verdade, nesse sonho só seu, que desde menina cresceu.

Mas desse sonho acordou, tropeçou na realidade, de uma vida fria, e de sonhos vazia.

A menina inocente, da do sonho tão diferente, não fora poesia, cortaram-lhe as asas nem fizera magia. Na sua pureza, confrontada com a realidade, deixou-se levar com o imposto por não ter idade.

E nesse mundo onde cresceu, que em nada era o seu, tornou-se mulher que de poesia não tinha nada, não era amada, por todos rebaixada, ficou presa a uma vida, em nada sonhada, uma vida vazia, que de tanto se arrependia.

Tornou-se uma sombra, do que era de verdade, e o que mostrava não era a realidade, era o imposto, o que era suposto, o que queriam que fosse, ignorando o seu gosto. Nunca conseguiu ter a vida que queria, vestir a pele de viver, e fazer poesia, apenas existindo, num corpo tão belo, sensual e singelo, um corpo calado do prazer abandonado, de uma sensualidade que contraria a realidade, que ignorou o amor, por impossível ser, mas nunca perdeu a esperança de um dia o viver.

Mas não deixa de ser uma menina, mulher cheia de sonhos, que secretamente os escrevia em toda a sua poesia, na esperança que um dia se fizesse magia.

Miss Kitty

Sou Tua…


A pele implora…
O meu corpo pede…
Basta uma palavra…
E à tua vontade cede…
Amarras-me para não fugir…
Vendada atiças o desejo…
E a vontade de resistir…
Esvai-se com o toque e um beijo…
Provocas-me como gosto…
Percorres a minha pele nua…
Não controlo o meu gemido…
E sussurro ao ouvido “Sou tua”…
Paras tudo o que fazes…
Controlas o teu desejo…
E dizes baixinho “Amo-te”…
Seguido de um estrondoso beijo…
É a pele que se rende…
Numa alma que já se rendeu…
Neste corpo tão presente…
Que faz tudo para ser teu…

Miss Kitty

Insónias… de novo

As insónias são tramadas…

Parcas horas depois de me ter deitado, lá pelo meio da noite, acordei, a chuva parara, o universo conspirava para além do espaço confinado e silencioso do quarto, sem o barulho intermitente das gotas a bater nas vidraças, e devia conspirar contra mim…

Olhei na direcção da janela sem nenhuma vivacidade, como uma estátua de olhos rasos e vazios que por mais que pareça olhar nada vê em seu redor, e nada sente.

Durante alguns minutos vi fugir-me todo o ânimo como se assistisse ao correr da areia por entre os dedos, como se me fugisse o tempo, e queria dormir um pouco mais, desligar-me do mundo…

Isto é o que habitualmente diz quem tem insónias e que não prega olho em toda a noite, mas que julga ser capaz de ludibriar o sono só porque quer dormir um pouco mais.

As insónias  são tramadas, ainda de olhos fechados a minha mente é assaltada pelas palavras que se juntam em catadupa e que surgem do nada, como se seguissem um rumo próprio, jorram sem motivo e escrevo mentalmente tudo o que me consome a alma.

Medo, desejos, memórias passadas e sonhos de um futuro risonho e promissor, mas tudo isto não passa de ficção, pois o destino teima sempre em trocar as voltas à vida e às vezes lá consegue…

Já dava um livro…

As horas passam, todas as que foram imprescindíveis para que o sol nascesse lá fora, não aqui num quarto branco, frio e sombrio como este, que mesmo quando lá fora as nuvens permitem passar o sol, só entra aqui dentro um tipo de luar diurno, mas que lá fora começa a fazer com que as pessoas despertem lentamente e a custo para as suas vidas vazias numa manhã fria, aguardando pela morte que chegará um dia.

Perdida em devaneios penso como seria não acordar, estou cansada de insónias e de pensamentos perdidos escritos no ar e que, quer queira quer não, estão sempre presentes e guardados a sete chaves no móvel mais recôndito da minha mente e só se libertam nestes momentos, de certeza que se acabariam…

Credo! Que pensamentos tão mórbidos… É incrível o que a privação do sono faz, transforma-nos, mas eu não deixo, afasto-os abrindo os olhos e vendo. Grata, mesmo sem ter dormido, deixo que o quarto saia da penumbra e se ilumine dando vida à vida que sinto fugir nestes instantes e sorrio despertando para a vida, porque ela não espera para ser vivida…

Miss Kitty

Dividido…

Estava dividido…
Deambulava inconstantemente numa linha invisível entre o politicamente correcto que lhe era imposto pelos que o rodeavam, e tudo o resto, que o fazia sentir vivo acelerando-lhe o sangue nas veias e o bater do coração.
Não era errado querer ser feliz, à sua maneira é certo, mas genuinamente feliz, então, refugiava-se nos seus momentos onde fechava o baú das recordações, não que não fossem importantes, eram experiências de vida, ensinamentos que lhe deram a conhecer o que queria e não queria da vida, mas necessitava desses momentos só seus, onde imaginava toda uma outra existência acabando por se perder no tempo e no espaço num estágio de meditação profunda.
Por momentos a vida era perfeita, não estava cercado de gente falsa e hipócrita que lhe dava palmadinhas nas costas quando precisava dele e quando estava bem na vida fazendo tudo o que podia para o bem dos outros, mas que quando estava mal e não tinha nada para oferecer nem sequer lhe falavam nem tão pouco perguntavam ou se ofereciam se precisasse de algo. Sentia-se descartável.
Nestes instantes só seus, vivia. Sentia borboletas na barriga fruto da sua necessidade constante de estar apaixonado, por si próprio, pela vida e por amor, sentindo intensamente cada toque, cada aroma e cada nota da música que o acompanhava nesta sua viagem. Era rebelde, não seguia modas nem estereótipos de uma sociedade que o aprisionava, mas sempre respeitador, e vivia.
O velho relógio da torre da igreja deu as badaladas da praxe a cada hora fazendo-o despertar da sua vida perfeita idealizada e de repente deixou de viver, simplesmente existia, com a esperança constante de um dia despertar e continuar a viver.

Miss Kitty

Escuro…

Desde pequena me instigaram a ter medo do escuro, mas nunca me ensinaram que, por vezes, o que se passa às claras pode ser bem mais assustador.
Talvez por isso sempre tenha preferido a noite.
É ela que me faz sonhar, esquecer o que a vida tem de mau e encontrar paz para tentar juntar os pedaços de mim, aqueles pedaços que vou perdendo um pouco todos os dias mas que me fazem falta para me sentir viva ou simplesmente para sentir.
É aí, nessa aparente e momentânea calma que tu entraste, sim tu, tu que aos poucos me vais restituindo a vida e o sentir sem sequer imaginares que o fazes.
Tu, a quem eu quero a meu lado para que esta calma deixe de ser momentânea mas sim uma constante, e para te ajudar a juntar os pedaços de ti que em tudo te atormentam e quebrar pedra a pedra desse muro, que ergueste à tua volta como defesa, e que lentamente vou conseguindo fazer desaparecer.
Sim, tu, que me aceitas como sou, não me criticas nem julgas e mais importante, ouves-me, tal como te oiço a ti quando mais precisas, nesses dias sombrios em que o instinto e a vontade te assaltam, e mesmo que o tentes esconder, eu sei, sinto e estou presente para ti.
Tu e eu somos um, amigos, companheiros, confidentes, cúmplices e amantes, tão perto mas tão distantes, completamo-nos em tudo e melhoramo-nos. Tudo o que é mau se vai desvanecendo aos poucos, os nossos lados negros e ocultos passam a ser mais brilhantes porque se atraem e se compreendem, deixando assim de serem tão negros e, consequentemente, deixando de nos atormentar.
E porque tu e eu já somos nós, agradeço à noite, essa que te pôs na minha vida, sendo anjo que me abraça e protege, ou demónio que tem o pior e o melhor mais oculto de mim, sendo como seja já fazes parte da minha vida.
Por isso agradeço à noite e digo com veemência, não há que ter medo do escuro mas sim da claridade e de quem nos faz mal às claras sem que ninguém se aperceba, ao escuro só tenho a agradecer…

Miss Kitty

A vida passa…

A vida passa, a um passo descompassado, gigante e acelerado, em que o destino é sina, dor que ninguém imagina, ou será talvez o meu fado, e o tempo inimigo e aliado, que me afasta apressado, de um passado tão indesejado.
Esse tempo é o meu fado, um fado mal fadado, de quereres, momentos e viveres, de tudo o que não foi alcançado, de um passado de prazeres, que a alma não saciaram, e no tempo perdidos ficaram, não passando de memórias, lendas fantasias ou histórias.
E no insistente presente, em que me foge o tempo, agarro-me aos parcos momentos, vivo sentimentos, neste coração parado, que na vida ficou estagnado, que com vontades se contenta, que o deixam triste e amargurado com uma falsa paz que o acalenta.
Mas esse passo apressado, que teima em não abrandar, e o tempo não parar, torna-se cada vez mais descompassado, e a sina da vida tenta mudar.

Miss Kitty

Um dia normal…

Lembro-me como se fosse ontem, um dia que amanheceu igual a tantos outros dias de Verão, em que o cheiro a maresia vindo do rio acompanhava o estridente chilrear dos pássaros que teimosamente me acordam às 5:30 da manhã, quando o sol começa a antecipar o calor que se irá sentir.
Levanto-me preguiçosamente, tomo um duche, passo creme na pele e visto-me, não preciso de mais para me considerar arranjada, afinal á só mais um dia igual aos outros.
Como ainda tenho tempo tomo o café com calma e com a companhia de um livro e deixo-me levar pelo cheiro do café e pela história que leio avidamente. Quando dou pelas horas já estava atrasadíssima, agarro na mala e no meu livro e saio disparada para o elevador e pela porta do prédio quando esbarro com ele, tendo caído redonda no chão.
Ele prontamente estendeu a mão para me ajudar a levantar mas assim que me toca tenho uma sensação de choque eléctrico que me deixa a tremer e sem forças, é quando olho para cima e me perco. Não sei quanto tempo ficámos assim mas deve ter sido bonito de se ver, eu sentada no chão de mão dada com ele e ambos perdidos num olhar interminável.
Finalmente reagimos, levanto-me inebriada pelo seu perfume e presa no seu toque e olhar, perfume esse que me transporta momentaneamente para o livro que leio “Perfume”, algures espalhado no chão e que ele apanha e me dá com um sorriso, como se adivinhasse o que estava a pensar.
Neste misto de sensações em tudo avassaladoras e inesperadas, ele desculpa-se pois vinha distraído e convida-me para um café. Eu, atrasadíssima, nem me lembro disso e aceito. Passámos horas a falar, como se nos conhecesse-mos, como se fosse-mos parte um do outro.
Tínhamos tudo para além de uma química incontrolável, de repente percebemos que éramos perfeitos um para o outro, coisa impensável e sem explicação, pois nem eu nem ele acreditávamos em amor à primeira vista nem em almas gémeas, talvez pelos passados que tivemos que nos deixaram descrentes.
Uma coisa era certa, sem nos conhecermos amávamo-nos!
E a comprová-lo tivemos o beijo que ele me deu quando nos despedimos. Um beijo em silêncio, que disse tudo sem precisarmos de dizer mais nada. Doce, terno, carregado de sentimento e dado com todos os sentidos numa explosão de gostos, cheiros e desejos. Foi um beijo que não tem explicação, não sei se será possível defini-lo desta forma mas fizemos amor com esse beijo.
Ainda hoje lhe digo “Teria sido um dia normal sim se não te tivesse conhecido”.

Miss Kitty

O amor….

Alimentava-se da sede que lhe tinha.
Ela era como vinho, suave, aveludado que embriagava qualquer mortal, envelhecido, já adocicado, e escurecido como a cor rubra e luzidia dos seus lábios, que o enfeitiçavam cada vez que sorria.
Saciava-se na fome que lhe tinha.
Encontrava satisfação em cada milímetro de pele que ansiava degustar, cada poro que lhe cobria o corpo e, que sem se aperceber, despertava mais do que ela talvez desejasse, e conseguia sentir-lhe o gosto, assim de longe, como se este lhe estivesse cravado no palato.
Na sua presença todos os sentidos ficavam alerta, como se quisesse absorver toda a sua essência e guarda-la para si como jóia rara, diamante em bruto aguardando ser lapidado pelo toque suave dos seus dedos.
Tinha-se apaixonado, melhor ainda, amava-a…
Assim, do nada, amava-a, sem qualquer explicação, mas sentia-o e ansiava pelo momento de lhe revelar esse segredo, mas adiava-o…
O medo tolhia-lhe os gestos e as palavras e sem querer deixava que esse medo se alimentasse e saciasse dele, como um monstro que ia crescendo e amordaçando a sua alma, impedindo-a de se revelar. Sentia-se ameaçado, ansioso. O pânico de ser rejeitado e de voltar a sofrer agigantava-se e acomodou-se.
Nunca soube ler os seus sinais, desejava-a mas não percebia se era recíproco, até ao dia em que ela lhe diz que tinha que partir.
O medo de a perder venceu, todos os outros se dissiparam, como nuvens na eminência de um dia ensolarado, e foi a medo que lhe disse o que sentia.
Era recíproco, tanto o medo como o amor. Por medo não tinham ficado juntos há mais tempo mas agora nada receavam. Tinham-se um ao outro, largaram tudo, até os medos, e finalmente puderam alimentar-se e saciar-se um no outro.
Porque o amor consegue vencer todos os medos…

Miss Kitty

Aninhada…

Aninho-me no teu peito onde a pele, a cada centímetro, de rio é leito, que transborda no meu sentir, quando tranquilo ainda estás a dormir. E no crepúsculo da madrugada, fico em silêncio acordada, o peito sinto respirar, sobe, desce, como se me estivesse a embalar, mas não quero voltar a adormecer, prefiro palavras nele tecer, sei que não serão ouvidas, mas as letras serão tão sentidas, mesmo estando a dormir, sei que te consigo invadir.
Esboças um leve sorriso, decerto que estarás a sonhar, ouves-me mesmo que não faça sentido, nem respiro para não te acordar.
Gosto quando te tenho assim, sereno, só para mim, inspiro o teu aroma de mil cores, quando te velo sinto os sabores, memórias de noites passadas, que em nós ficam guardadas e nunca foram noites veladas.
Suavemente desperta o dia, e como que por magia, oiço milhares de chilreares, de passarinhos e seus cantares, que no quintal se vêem assomar, de cantar doce para nos cumprimentar. Lentamente abres os olhos, de um castanho profundo e já sem dor, sentes-te completo, com o coração de amor repleto, beijo-te ao de leve, um beijo sentido e breve, e digo “Bom dia amor!”

Miss Kitty

Nós…

Enleio-me nos escolhos,
de um mar de sargaços,
numa vida inundada,
de dores e cansaços.
Tento encontrar a ponta,
o fim da meada,
cada vez que me mexo,
fico mais enleada.
Vida com nós,
que teimo desatar,
enquanto o destino,
me continua a testar.
Tenho que encontrar,
o meu porto de abrigo,
algo a que me agarrar,
só assim o consigo.
Assim que o fizer,
desenleio-me lentamente,
deixo de só existir,
dou-me a vida de presente.

Miss Kitty

Segredo

És o meu maior segredo, coisa que escondo a medo, vieste para ficar, és de peça o enredo, actor principal de um drama, que me revolta a cama, e anseio por interpretar, porque de ti preciso, e chegaste sem aviso, devagar foste entrando, soubeste esta peça desempenhar, o teu espaço conquistar, e no coração não mando pois não te quero ignorar.

Nesta peça da vida, que anseia por ser vivida, sou actriz principal, actuo com toda a essência, nesta minha humilde existência, interpreto esse papel, doce e acre como fel, com o cheiro dos meus segredos, repleto de dúvidas e medos, que um dia te hei-de revelar, e este papel representar.

Sigo o guião a rigor, analiso todas as frases, aproveito as tuas deixas, que me fazem render às evidências, de alma com tanta dor, corpo que reclama calor, ignoro incongruências, e rendo-me ao amor, pois é assim que me deixas, num turbilhão de sentidos, intensos e desmedidos, prontos a serem sentidos.

E o segredo que te conto, não precisa de ponto, nem tão pouco encenação, por ser em tudo sincero, vindo do coração, não quero conta-lo em vão, por cenário favorável espero, para que não vire tragédia, não cause a infelicidade, de um drama de verdade, porque o que sempre quis, foi ter um papel feliz.

Por seres o meu maior segredo, talvez um dia to revele, a medo.

Miss Kitty