Respiro-te…

Respiro-te…

Respiro o teu silêncio, encanto-me com a tua voz, num desejo que se tornou atroz, de sentir na ponta dos dedos, os lábios que revelam segredos, a pele que com a minha comunica e o desejo que se intensifica.

Respiro cada momento, simples mas cheio de sentimento, cada palavra que escreves, não dizes pois não te atreves, mas leio-as nas entrelinhas, tão tuas mas no fundo muito minhas, neste meu querer tão sentido, onde nada é falso ou fingido.

Respiro a cor do teu olhar, o perfume do teu tocar, as palavras cheias de magia, que parecem feitiçaria, me envolvem e me encantam, e amiúde me espantam, num casamento perfeito, entre corpo, Alma e esse teu jeito, que me seduz e cativa, prende mas liberta e de nada me priva.

Respiro o tamanho do espaço, que um dia foi de cansaço, entre os teu lábios e os meus, que mesmo longe se tornaram teus, hoje voltaram ter vida, lentamente sarou uma ferida, com esta forma de te respirar, sem a qual não faria sentido amar.

Miss Kitty

Será que é errado?

Será que é errado, este ser tão intensa, de coração condenado, sentimento julgado, sentido pela alma imensa, da distância banhado, de luz ensombrado, que à loucura me conduz, essa intensidade que me seduz, por todos vista como pecado.

Será que é errado, todo este meu querer, e o nada ter, que tudo contraria, me deixa tão vazia, em profunda apatia, pela falta que me faz, a intensidade que me apraz, que me devolve a vida, a alma perdida, me restitui de cores, sentidos e sabores, de uma vida vivida, sem cicatrizes nem dores.

Será que é errado, todo este sentir, este querer ser amada, sentir-me desejada, com sinceridade, e tranquilidade, e não ser usada, quando não precisa descartada, ficando vazia, sem luz no meu dia, e tão acorrentada, restando este sonho que me guia.

Se ser eu é errado, eu quero errar, votar-me ao pecado, vivê-lo desmesurado, entregar-me ao amar, julguem o que quiserem julgar.

Miss Kitty

Espreita…

Abro-te a porta do meu escrever e tu espreitas receosamente por entre as letras, para dentro das estrofes, com temor que elas te leiam a ti, que sejam um espelho da tua essência e te exponham ao mundo, mesmo que ninguém se aperceba desse teu segredo íntimo que te aprisiona, esse que te faz vibrar e sentir vivo.
Sem querer, desperto-te todos os sentidos quando te perdes nas curvas sensuais das letras que não escrevo, nas entrelinhas, e por momentos és livre. Sentes-te…
És tu na mais pura essência, sem máscaras, nem filtros de beleza instantânea mas tão efémera, és simplesmente, e sentes-te, como se algo inexplicável te tivesse atingido à traição e provocado reacções inesperadas, quando perdido na sensualidade das letras te consegues libertar.
São rimas imperfeitas que te envolvem e afagam a alma num abraço que queres que seja interminável, e estrofes que te tocam atrevidamente no mais íntimo do teu ser provocando onomatopeias de prazer.
Não receies… e espreita.
Porque os poemas lêem-nos e por vezes são espelhos de quem os lê, que reflectem tudo o que não mostramos.
Agora…
Agora vou escrever-te um poema!

Miss Kitty

Fé!

Tinha fé…
Acreditava que existia algo superior que tentava ordenar o caos da vida, por vezes não da melhor forma, talvez como castigo ou para servir de ensinamento, mas há muito que deixara de ter fé na humanidade.
Algo o impeliu para entrar naquela igreja, escura, sombria e fria. De repente viu-se rodeado frescos onde os anjos e demónios ladeavam santos, carregados de simbologia, mas que a ele não diziam nada, não passavam de ícones criados pelo homem a tentar explicar o inexplicável, e de pessoas que fervorosamente rezavam, na esperança vã de obterem milagres, mas ele não rezava.
Simplesmente ali estava, sentia-se em paz na “casa de deus”, coisa que não acontecia no mundo dos homens onde tudo era superficial e frio, tudo e todos se moviam por interesse ao invés do que deveriam ser as relações humanas. Era um mundo fútil, desinteressado, onde até o amor tinha virado um negócio, um contrato sem termo que num estalar de dedos pode ser rescindido quando deixa de ter interesse, sem valorizar os sentimentos.
Mas ele não era assim, amava incondicionalmente e sem subterfúgios, e vivia na esperança de encontrar alguém como ele que soubesse amar de corpo e alma e que o engrandecesse. Esse sentimento agigantava-se de dia para dia e cada vez se sentia mais perto de o alcançar, enquanto isso ali permanecia imóvel, como se estivesse invisivelmente pressionado a fazê-lo, como se algo o prendesse.
De repente decide partir, levanta-se rapidamente como se fugisse de algo e ao virar-se esbarra com ela. De olhos nos olhos, e corpos que acidentalmente se tocavam, o milagre aconteceu, apesar de não crer em milagres.
Inexplicavelmente tudo passou a fazer sentido e a dar-lhe um sentido à vida, o do amor que tanto desejava. Nunca mais se separaram.
E continuava a ter fé, mas não rezava…

Miss Kitty

Quero — Baltasar Sete-Sóis

Quero voltar a ser minha e quero voltar a ser casa onde adormeço as geladas e agitadas noites que trago dentro de mim. Cansei-me de chorar, de implorar a teus pés pelo teu amor. Atirei fora quem era para me subjugar à tua vontade, destruindo aquele amor próprio que não pretendias que fosse maior do […]

via Quero — Baltasar Sete-Sóis

MAGOADA!

Deixam-me em pedaços…
De tão magoada…
E a alma tão ferida…
Da vida cansada…
Atitudes que doem…
Palavras não escritas…
Uma ansiedade crescente…
De quando forem ditas…
Dói-me a alma…
Gela-me o coração…
Porque tinha que me apaixonar…
Por uma mera ilusão…
Sentir o que não quero…
E está tatuado em mim…
Não consigo ignorar…
Este sentir assim…
E o sorriso nos lábios…
Que uma lágrima disfarça…
Cala-me as palavras…
Que o destino traça…

Miss Kitty

Sei que me lês…

Será?

De que servem as rosas?

Sei que me lês…

Tentas resistir, tentas ignorar as reacções que te provoco e a forma acutilante como por vezes te toco nas feridas e consigo remexer cada pedaço de memória que queres esquecer.

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Imagina…

Imagina como sou…
Põe à prova o conhecimento…
Nada te ocultarei…
Nem mesmo o sentimento…

Ou esse meu lado oculto…
Que mantenho em segredo…
Pecaminoso e devasso…
Que me condena ao degredo…

Abre a tua mente…
Tenta-me desvendar…
Desafia o impossível…
E se sabes como me provocar…

Prometo que te ajudo…
Nesse teu imaginar…
Onde desafias o meu ser…
O que quiseres podes perguntar…

Sente o meu toque…
Imagina os meus beijos…
Será que o calor da minha pele…
Te atiça os desejos…

Imagina a minha voz…
E o prazer que te dou…
Abre a tua mente…
Imagina como sou…

Miss Kitty

Insónia…

Envolta num lençol de cetim que lhe acariciava a pele nua, sedosa, debatia-se com a falta de sono.

Era assaltada por pensamentos constantes que não lhe davam sossego, nem a deixavam fechar os olhos. E em silêncio observa…

Tudo lhe parece frio, até o tempo que demora a passar. Tenta aquecer a alma com um livro, perdendo-se nos meandros de uma intrincada história, que acaba por descobrir que é uma cópia perfeita da sua, até nisso a vida joga contra ela…

Frustrada, fecha os olhos, precisava de se encontrar, onde quer que se tenha perdido dela própria, e voltar a ser gente, a ser mulher, e sentir…

É invadida pelo cheiro a terra, molhada pelas gotas que caem copiosamente apesar do calor, que já nem sabia se era dela ou se da temperatura que se fazia sentir, e tudo lhe continuava a parecer tão frio, até adormecer, embalada pelo som da chuva que teimosamente brotava.

E sonha…

De repente tudo o que a atormentava tinha desaparecido, todos os seus medos e dores, e sentia-se livre, diferente, entregue aos desejos e vontades, talvez instigados pelo toque do cetim na sua nudez, que a despertava internamente, ou pelo das mãos que não as dela, que sentia percorrerem-lhe o corpo de forma provocadora, embora não passasse disso, não eram reais, mas sentia-as.

E o abraço…

Nesse abraço sentido, fundiram-se as almas, sabores e cheiros, vontades que fariam corar o Diabo e desejos que se incendiavam e tornavam capazes de pegar fogo ao Inferno.

Entregou-se ao prazer e calor desse abraço, esse que de tão intenso ser já se tinha transformado em real, agora eram as suas mãos, o seu toque…

E libertou-se!

De tudo!

Caindo num sono profundo e reparador que a fez acordar com um sorriso nos lábios, feliz, e muito mais ela…

Aquela que se tinha perdido há muito e lentamente se voltava a encontrar…

Miss Kitty

Iludida…

Pensamentos castrados.
Desejos ocultados.
De mágoas rasgados.
Que me atormentam.

Na dor do sentir.
De que quero fugir.
Teimam em iludir.
Inconscientes, alimentam.

E uma esperança vã,
que em nada é sã,
me desperta pela manhã.

Dá à vida cor,
ameniza-me a dor,
da ilusão desse amor.

Miss Kitty

Dor…

Dói…

Perco o pouco que me resta do nada que tenho, e grito em silêncio.

Desfaço-me em mil pedaços de letras que, como as gotas do orvalho, deslizam lentamente pela pele, queimando cada centímetro por onde passam como lava, até desaguarem na ponta dos dedos em palavras que me rasgam por dentro, onde a vida perde o encanto e cor, e sou só mais um corpo.

Morro lentamente a cada frase e nas sinestesias da vida, cheiros e sabores de poemas onde me perco, porventura castigo de ser intensa e sentir tudo o que digo, mas calam-me…

Matam-me aos poucos como tortura, e assim, inesperadamente e sem explicação, todos os pedacinhos de coração voltaram para onde estavam antes de me desfazer, para o nada, porque nem as palavras que escrevo me ressuscitam, até que, quem sabe um dia, se voltem a juntar de novo, e que dessa vez façam lindos poemas, doces e coloridos com cheiro a reviver, porque na vida o tudo e o nada nunca são para sempre e até o grito silencioso por vezes se cala…

 

Miss Kitty

… e esperava.

Subia a rua vagarosamente, cortando o som do silêncio da madrugada chuvosa onde tudo parecia chorar, até as pedras da calçada por onde arrastava os pés, estavam inundadas de tristeza.

Por vezes demorava o passo, disperso em pensamentos que o assaltavam ao reparar em qualquer pormenor da viela por onde passava, perdido em pensamentos e nele próprio.

Ao longo da vida nunca se tinha encontrado, faltava-lhe algo que o engrandecesse, fortificasse, e restituísse aquela alegria de viver só então sentida na sua infância… Faltava-lhe o amor.

Amor verdadeiro, aquele que nunca tinha sentido com nenhuma das muitas mulheres que já tinha tido. Muitos corpos, peles, aromas, que lhe tinham passado entre os dedos, mas resumia-se a isso, ao prazer instantâneo do toque numa noite para combater a solidão.

Faltava-lhe aquela… a que lhe conseguia tocar a alma, aí sim, seria feliz.

Mas não desistia, continuava a subir a rua morosamente na esperança vã que a chuva da madrugada deixasse de ser um choro de tristeza e um qualquer virar de esquina lhe trouxesse o impossível.

E porque até o impossível é possível… continuava a subir, e a esperar…

Miss Kitty