Segredo

És o meu maior segredo, coisa que escondo a medo, vieste para ficar, és de peça o enredo, actor principal de um drama, que me revolta a cama, e anseio por interpretar, porque de ti preciso, e chegaste sem aviso, devagar foste entrando, soubeste esta peça desempenhar, o teu espaço conquistar, e no coração não mando pois não te quero ignorar.

Nesta peça da vida, que anseia por ser vivida, sou actriz principal, actuo com toda a essência, nesta minha humilde existência, interpreto esse papel, doce e acre como fel, com o cheiro dos meus segredos, repleto de dúvidas e medos, que um dia te hei-de revelar, e este papel representar.

Sigo o guião a rigor, analiso todas as frases, aproveito as tuas deixas, que me fazem render às evidências, de alma com tanta dor, corpo que reclama calor, ignoro incongruências, e rendo-me ao amor, pois é assim que me deixas, num turbilhão de sentidos, intensos e desmedidos, prontos a serem sentidos.

E o segredo que te conto, não precisa de ponto, nem tão pouco encenação, por ser em tudo sincero, vindo do coração, não quero conta-lo em vão, por cenário favorável espero, para que não vire tragédia, não cause a infelicidade, de um drama de verdade, porque o que sempre quis, foi ter um papel feliz.

Por seres o meu maior segredo, talvez um dia to revele, a medo.

Miss Kitty

Fraco…

Fraco não é aquele que foge, muito menos quem chora…

Esses, sim, são fortes, têm a capacidade de mostrar aos que os rodeiam que são humanos, têm sentimentos, guiam-se pelas memórias que se tornaram experiências, enquanto os que se auto-intitulam de fortes se devotam ao esquecimento, não olhando a meios para atingir os fins, nunca aprendendo com os erros e ignorando todos os ensinamentos que esses mesmos erros lhes dão, e quando erram refugiam-se na cobardia nunca admitindo os seus erros nem as consequências dos mesmos, muito menos sequer se preocupam ou pedem desculpa para amenizar os danos provocados, e, se isso é ser forte, é tão bom ser fraco…

Podemos chorar, gritar, esbracejar ou dizer asneiras, são desabafos da alma que não devemos ignorar por parecermos fracos, pelo contrário, quando o fazemos só demonstramos o quão “fortes” somos ao enfrentarmos tudo o que nos deita abaixo mostrando a nossa individualidade, humanidade e moralidade, e como sentimos.

Os fortes… Ah! Esses… Subjugam, criticam, espezinham com a sua prepotência e pseudo-superioridade, são abjectos de moral, não demonstram sentimentos e quando o fazem são líquidos e efémeros no intuito de obter algo em seu proveito, ou de prejudicar alguém nunca conseguindo atingir a felicidade.

Porque um homem também chora, sejamos todos fortes e choremos, independentemente do género, credo ou convicções, simplesmente sejamos humanos… e choremos!

Choremos por tão fortes sermos…

Miss Kitty

Escrevo-me em ti…

Escrevo-me em ti como sou e como te sinto…
Serei frágil e doce por fora, mas com um coração selvagem, que anseia a liberdade de uma entrega que me solte de amarras, e um amanhecer agarrada por ti mas sentindo-me livre.
Tenho as mãos delicadas com gestos doces e suaves, que deixam traços na tua pele à sua passagem e descobrem jeitos e sabores infindáveis e inexplorados.
Trago-te a vida na ponta dos dedos quando te desperto ao tocar, como se fosse uma transfusão de que precisasses para te ressuscitar e te cobrir de cor.
Seduzo-te pela inteligência espelhada num olhar penetrante e sensual, ao qual não consegues resistir, porque este não mente nem ilude, e é bem mais apelativo do que qualquer outra parte do corpo que se pode expor deixando de ter interesse, pois a inteligência, a mente e a Alma são os maiores afrodisíacos.
E depois há o beijo, os nossos beijos…
Aqueles silenciosos que carregam o nosso mundo e tudo dizem, nada dizendo, apenas sentindo e fazendo sentir, coisa que poucos entendem mas nós conhecemos de cor.
Adoro este modo especial de me escrever em ti…

Miss Kitty

Pesadelo…

Acordou em sobressalto, de corpo cansado e peito fechado, e lágrimas escorrem dos pensamentos que lhe ocorrem, o medo apodera-se da alma, perde toda a sua inerente calma, e de coração assustado, o corpo antes imobilizado, levanta-se num salto.
Tinha tido um pesadelo, povoado pelos seus medos, desejos ocultos e segredos, todos apareceram, e prontamente escarneceram, da sua vida vazia, cheia de dor e apatia, não conhecia a felicidade, por não poder ser como era na verdade, e gozaram com desvelo.
Os olhos abre com receio, da realidade do seu meio, apercebe-se que tinha sido só um sonho malvado, que toda a vida lhe tinha roubado, preguiçosamente inspira fundo, lentamente sai do sono profundo, e enfrenta a vida de peito escancarado.

Miss Kitty

Existia…

Escrevendo, conseguia ser outra pessoa.
Era quem queria ser, boa ou má, Anjo ou Demónio, sem medos nem pudores, num mundo só seu onde tudo era permitido, até mesmo os seus maiores pecados que descrevia com grado, quiçá prazer, ignorando julgamentos.
Sentia cada letra, cada palavra cuidadosamente disposta, evitando assim a vulgaridade de escrever só por escrever, e conforme as sentia queria que se fizessem sentir a quem amavelmente as lia, que tocassem e despertassem de forma inequívoca para sentimentos reprimidos que por via das suas letras afloravam na pele eriçando cada poro.
Imaginava histórias de encantar, encantava com histórias imaginadas, escrevia-as, e assim vivia!
E, quando o texto acabava, tinha que voltar a ser ela.
Um dia perguntaram-lhe se era bom e como se sentia quando era outra pessoa.
Respondeu prontamente que, se soubesse que conseguia voltar a ser ela, tal como era, gostava, pois era a única altura na sua vida vazia em que se conseguia preencher, ser alguém…
Mas secretamente tantas vezes pensava que não queria voltar a ser quem era, que queria viver.
Mas não havia maneira de ser outra pessoa, e continuava a existir…

Miss Kitty

Linhas…

Linhas,
cruzadas e emaranhadas…
De vidas vazias,
e peles tão cansadas…
São linhas invisíveis,
que secretamente se tocam,
não sucumbem aos nós,
desenleiam-se e se provocam.
Ou linhas por onde se escrevem,
todos os desejos ocultos,
as vontades reprimidas,
sem castigo ou indultos.
E no emaranhado da vida,
seja que linha for,
são as linhas que nos sustentam,
e nos levam ao amor.
 
Miss Kitty